….JOURNEYS OF GROWTH, Episode 1: GUSTAVO NETTO ..JORNADAS DE CRESCIMENTO, Episódio 1: GUSTAVO NETTO….

 
….Picture by my wife Marcela K-Netto, no filters, simply a genuine father-son moment at a state park in CT. ..Foto por minha esposa Marcela K-Netto, sem filtros, simplesmente um momento genuíno entre pai e filho em um parque estadual em Connecticut. ….

….Picture by my wife Marcela K-Netto, no filters, simply a genuine father-son moment at a state park in CT. ..Foto por minha esposa Marcela K-Netto, sem filtros, simplesmente um momento genuíno entre pai e filho em um parque estadual em Connecticut. ….

“Eu tinha grandes sonhos, queria experimentar o mundo, sabia que Nova York era o centro de tudo, mas não tinha idéia de onde estava pisando e, para mim, isso era fascinante.”

O começo do sonho

“Chegando em Nova York aos 20 anos, eu acreditava tanto nas minhas habilidades, que eu sabia que nenhuma língua ou a falta dela me impediria alcançar o que havia vindo conquistar — só não sabia o que era. Na minha cabeça, a cidade de Nova York era o set de um filme, eu era o protagonista.”

brazil-dream.jpg

….Brazil, 1982/'83.. Brasil, 1982/'83….

Eu sempre sonhei em ser um jogador de futebol mas aos 16 anos tive que tomar a maior decisão da minha vida até aquele momento, em São Paulo, cidade onde nasci. Ou assinava um contrato para ir tentar uma carreira profissional competindo com outros 200 jovens de todo o Brasil na base de um clube no interior ou eu ficava em São Paulo para estudar, curtir a adolescência e buscar uma carreira na area da tecnologia, algo que sempre tive muita afinidade.

Escolhi a segunda opção mas sem esquecer o sonho de um dia poder ser um jogador de futebol. Aos 20 anos eu trabalhava em um empresa de publicidade que havia sido comprada por um grupo americano. Apesar de estarmos no começo da era digital e desmembrando oportunidades pela internet, eu me sentia defasado, eu sabia que sem o inglês o meu futuro no Brasil seria limitado, por isso, decidi me aventurar pelo mundo. A princípio tinha vontade de ir para a Inglaterra para estar mais perto do futebol Europeu mas as circunstâncias da vida me levaram para os Estados Unidos.  Refletindo bem, a decisão de vir para cá foi tomada por dois fatores: o primeiro era aprender o inglês e o segundo era me dar a oportunidade de explorar o desconhecido, algo que sempre me fascinou.
[picture]

Influências iniciais

….Father and son.. Pai e filho….

family-brazil.jpg

….Mom and us..Mãe e nós….

“No Brasil, a minha mãe tinha dois empregos, como professora e como empresária em sua empresa gráfica que ela mesma montou e rodou por mais de 18 anos”.

“Apesar de passar por apertos nos anos 80, o meu pai tinha um emprego estável como Analista de Sistemas, mas sempre tentava fazer alguma coisa paralela como ser jogador de futebol profissional, dono de restaurantes, investir na agricultura, entre outras coisas”.

O divórcio deles aos meus 6 anos de idade me forçou a criar uma amizade independente com cada um deles. Mas o que os dois me ensinaram desde o início foi ter ética no trabalho e independência para ir atrás do que eu quiser da vida — mas o que eu quero da vida? onde? por que?

O meu primeiro trabalho em Nova York. 

Por não saber inglês, as minhas opções eram limitadas e fiquei disposto a fazer o que aparecesse.  Até que recebo um convite de um brasileiro que conhecia e ele disse “Gustavão, ta afim de trabalhar mesmo?” Eu disse: “claro que sim.” E ele completou: “Então tá bom, vou te levar até o restaurante de um Russo que é casado com uma americana que conheço. Ela disse que o “dishwasher” (lavador de pratos) deles está doente e eles precisam de uma ajuda na cozinha pois hoje é o dia mais “busy” (corrido) para eles.”  Era um sábado por volta do meio dia.

Chegando lá, este meu conhecido me apresentou ao dono que mal olhou na minha cara, apertou a minha mão com uma mão que deveria ser o dobro da minha. O Russo me levou até a cozinha, apontou para a pia e disse: Pode começar por essas panelas. Deveria ter ali pelo menos umas 20 panelas industriais que estavam na pia fazia uma semana. Isso era por volta de umas duas da tarde.

Cerca das quatro horas, chegou um rapaz Mexicano que se apresentou como Jaime. Ele começou a puxar papo, queria saber de onde eu era, quanto tempo estava em Nova York e quando eu disse que fazia apenas duas semanas, ele deu uma risada com o canto de boca. De repente entra o Russo gritando e o pouco que entendi era para a gente parar de falar e limpar tudo porque a noite iria apenas começar. 

Das seis da tarde até as duas da manhã, apenas nós dois lavamos as mesmas panelas muitas vezes que chegavam quente da cozinha e eram literalmente jogadas na pia, tirávamos a comida de umas cestas pretas que chegavam cheias com tudo em cima e amontoado e colocávamos as louças sujas dentro da maquina de lavar que quando pronto, saiam a uns 40 graus de temperatura. 

As 2 da manhã depois que os últimos clientes foram embora, os garçons também, pensei que havíamos terminado. Eu exausto, acho que nem cheguei a comer durante todo o dia, o Russo entra mais uma vez na cozinha e diz: “agora só falta o chão, tirem todos esses tapetes dai e esfreguem bem, depois podem ir embora.” O Jaime sem falar nada já começou a levantar os tapetes sujos e com um rodo começou a limpar. Ele apontou pra o outro rodo e começei a fazer o mesmo. 

Por volta das 3 horas da manhã saí todo sujo com o meu tênis que era novo e a minha calça jeans que também era nova, chegamos na sala principal do restaurante e o Russo, aparentemente bêbado, esta apontando o dedo na cara da Americana e gritando com ela. Ele olha para mim e para o Jaime e pergunta se ja havíamos terminado.  A gente só confirmou com a cabeça. Ele tira um bolo de dinheiro do bolso e dá $60 e da para cada. Então vira pra mim e diz em espanhol “Quieres un trabajo?” E e eu sem jeito digo Yes. Ele fala para eu voltar amanhã o mesmo horário.  

Foi a primeira vez na minha vida que me senti usado, humilhado e não tinha como me defender. Nesse dia aprendi a importância de entender sobre procura/demanda pois se tivesse negociado antes, a necessidade dele era maior que a minha. Mas ao mesmo tempo, aprendi também a importância do trabalho principalmente os que eu não gostaria de fazer e o mais importante, saber escrever a linha do respeito. 

Nunca mais vi o Russo e alguns dias depois, aceitei um outro trabalho também como dishwasher em um restaurante Frances mais perto da minha casa onde ganhava $6 por hora (salário mínimo na época).

gn-veselka.jpeg

New York City,


April 2000

Dentro de algumas semanas, percebi que os chamados “busboys” (ajudantes de garçom) não sabiam muito falar inglês, pedi uma chance ao dono que aceitou. Dobrei o meu ganho mensal!

….The everyday discipline..A disciplina de cada dia….

"Todos os dias quando acordava, eu olhava pela janela do apartamento no Lower East Side em Manhattan e tinha uma sensação de “como será hoje?”  Eu não tinha um script mas me sentia dentro de um filme.  Eu não sabia que parte do filme eu estava nem que papel eu tinha que exercer mas sabia que teria que descobrir diariamente que o filme era sobre a minha história. Uma história que um dia estaria orgulhoso de contar aos meus filhos. 

Para aprender o inglês eu escutava diariamente um pastor que tinha um dicção perfeita e parecia ser a única pessoa que eu entendia. Foi em uma de suas mensagens que ele falou sobre a importância do foco. Foi ai que nasceu a minha disciplina e obsessão em focar em 3 objetivos por vez. 

O primeiro objetivo era o estudo. Em 6 meses, sabia que apenas aprender ingles não era suficiente, eu tinha que coloca-lo em pratica. Para isso, resolvi entrar na minha primeira faculdade.  O segundo era a carreira. Eu tinha que direcionar os estudos e o meu tempo para saber quais conhecimentos eu tinha que adquirir para ter uma carreira na indústria de tecnologia. E o terceiro era o futebol. O sonho ainda exisitia mas eu tinha que aprender como ter alguma chance de poder fazer um teste em alguma universidade americana.

“Até que que um dia fui fazer o meu primeiro teste em uma universidade em Long Island, cerca de 45 minutos de Manhattan. Uma amiga me apresentou a um amigo que me apresentou ao técnico. Era um dia chuvoso, estava um pouco frio. Peguei o trem da estação central de Manhattan e me encontrei com o rapaz na estação perto da universidade. Ele chegou em um carro velho que ele dividia com outros três jogadores, só ali já valeu o ingresso. Chegamos no treino onde teria dois jogos entre os jogadores do time, o chamado “rachão”. Entrei no segundo tempo, fiz muito pouco até ter uma forte câimbra na batata da perna. Quando sai do campo, o técnico simplesmente olhou pra mim e disse: me parece que você precisa gastar algumas horas na academia.” 

[picture]

….Practice is the mother of skills.. A pratica é a mãe da habilidade….

“Feedback é um presente e a realidade é uma coleção de fatos. Resolvi investir em uma academia e entre as peladas em Nova York e o fortalecimento muscular, fui ganhando confiança. Até que um dia fui convidado para fazer o meu segundo teste em uma faculdade no Brooklyn. Fui bem, fiz um bonito gol de fora da area e toquei bastante na bola. O técnico fez uma entrevista a beira do gramado, disse que gostou do meu estilo de jogo e me prometeu um bolsa de estudos e pediu para passar no escritório dele na próxima semana. Chegando lá em uma segunda-feira ensolarada no começo do verão, ele veio com um papo que não teria a bolsa completa e o que poderia me oferecer era apenas $5K no primeiro ano com a possibilidade de uma bolsa integral no segundo ano. Eu disse que tinha menos de $1K no banco e não teria condições nenhuma de pagar quase $35K naquele ano. Vamos chama-lo de técnico “Mister T" para preserva-lo. Ele daqui a pouco volta nesse história."

Saí de lá muito desanimado e triste mas ainda acreditava no sonho. Foi quando um dos jogadores da faculdade me viu ali de cabeça baixa e me apresentou para um cara que hoje chamo de parceiro, o senhor Carlos Oliveira (Caca). Fomos jantar em um restarante em Manhatthan naquela segunda-feira e compartilhei com ele o meu sonho. Na quarta-feira de manhã, recebo uma ligação do Caca que me diz: garoto, prepara as suas coisas que vamos para Connecticut hoje a noite para um teste.

Chegamos no campus da Universidade por volta das sete da noite, na entrada, observei alguns estudantes em grupos se divertindo, enquanto outros caminhavam em um dos lugares mais bonitos que já havia visitado. Subimos diretamente ao ginásio de esportes onde teria aquela noite apenas um grupo de ex-jogadores e jogadores atuais jogando uma “pelada”. Fui apresentado ao técnico, Mr. McGuigan, que me perguntou: filho, você está preparado para jogar na primeira divisão? Eu com o ar da certeza mas com o peso da incerteza disse, Yes, I am! Aquele dia, talvez tenha sido uma das minhas melhores performance dentro de uma quadra. Joguei a vida toda indoor, e alí era o meu palco. Saímos do jogo, o Caca me levou para conhecer os arredores da universidade e fomos nos encontrar no escritório do Mr. McGuigan.

Ele simplesmente disse, filho, hoje é o seu dia de sorte, fiquei sabendo pela manhã que tenho mais uma bolsa para investir em algum, pelo que você demonstrou hoje e por saber do seu sonho, gostaria de te convidar a se juntar ao time de futebol da Sacred Heart University.

Quer saber sobre o Mr. T? Ironia do destino ou não, jogamos diretamente contra o time dele, tive uma bela apresentação e ganhamos a partida :-)

314107_10100796439850220_35383617_n@0.jpg
shu-game.jpg

Não basta chegar ao destino, temos que saber desfrutar da jornada e continuar sonhando

No ultimo ano da faculdade, devido a ansiedade da formatura, a perda da minha avó no Brasil e um acúmulo de sentimentos, tive uma forte depressão. Quando achava que estava no topo, parece que tudo havia desabado.

Todos dias começavam escuros, sem motivação e sem entender o porque, afinal, eu tinha tudo que sempre sonhei e estava vivendo o sonho, preste a coroar o meus anos de esforço com um diploma de universidade da primeira divisão do Estados Unidos, mas não sabia mais sonhar.

Graças a pessoas fantásticas com a diretora do departamento Atlético, Mrs Lucy Cox e outras que rapidamente perceberam que algo estava errado comigo, fui encaminhado ao departamento clínico da faculdade. Depois de algumas sessões de terapia psicológica, fui rapidamente diagnosticado e superei a depressão, me formei e voltei a sonhar.

….Sacred Hear University Graduation, May 2006.. Formatura na Sacred Heart University, maio de 2006

….Sacred Hear University Graduation, May 2006.. Formatura na Sacred Heart University, maio de 2006

….A burning question that gave meaning to my journey..A pergunta que deu significado a minha jornada….

Durante a minha trajetória acadêmica e futebolística, eu focava muito na minha carreira em tecnologia. Aprendia muito sozinho, desenvolvendo websites para pequenas empresas já que tinha experiencia do Brasil, fiz alguns estágios até ingressar em um programa de liderança de tecnologia na General Electric (GE). Mas desde do inicio da minha jornada lavando pratos naquele restaurante do Russo, a pergunta não me dava sossego era “Como algumas pessoas fazem tanto dinheiro e outras sofrem para fazer e viver com um salário mínimo?”

Naquele ponto da minha vida, foi quando percebi que a ‘Escola da Vida’ chamada New York City havia me preparado. Havia conquistado os meus primeiros 3 objetivos que demoraram quase 6 anos, agora era hora de criar os próximos 3. O primeiro era estabilidade financeira. Eu precisava aprender com os grandes no maior país capitalista do mundo. O segundo era construir uma familia. E o terceiro era finalmente poder criar experiencias ao redor do mundo.

Com essa nova perspectiva, muita bagagem na mala, era a hora de provar para mim mesmo que frases como “O que eu almejar, eu posso conquistar” faria realmente sentido ou não. 

[fotos - viagens ao redor do mundo]

As 10 Coisas que Aprendi ao longo desses 21 anos nos 🇺🇸

[pictures: viagens]

Sempre investi o que ganhei em estudos, em viagens e novas oportunidades em conhecer pessoas. Passei alguns apertos e medos, não vou mentir, mas o principal sempre foi a minha vontade de conhecer o desconhecido e aprender cada vez mais sobre o que sou capaz.

nyc-2021.jpg

New York,


Maio 2021

Hoje, construí uma linda familia, uma carreira de projeção internacional e uma rede de amigos global.

1. Saber quem eu sou para mim e para o mundo.

2. Visualizar diariamente o que desejo conquistar.

3. Traçar objetivos, independentemente, do que as pessoas pensam. 

4. Agir todos os dias como se esses objetivos estivessem ao meu alcance.

5. Ter gratidão diaria por ter saúde e poder dar um passo a cada vez.

6. Ficar rodeado de pessoas que me apoiam e me inspiram.

7. Entender que não existe perfeição mas sim uma contínua busca por melhores resultados.

8. Nunca esquecer das minhas raízes.

9. Celebrar todos as conquistas independente do tamanho ou proporção.

10. Agir sempre com ética e dignidade acima de qualquer situação

No final, a soma de todos esses fatores resultam em um processo de transformação pessoal onde você tem um preenchimento diário em nossa vida pessoal, profissional e espiritual - o preenchimento e balanço dessas três areas para mim, é também o significado do sucesso mundialmente conhecido como o “American Dream”. Quantas pessoas você conhece ou admira que tem um balanço dessas três áreas?

Agora, sabemos que os Estudos Unidos foi fundado por princípios com uma base forte a qual fomenta oportunidades para que as pessoas possam se desenvolver em busca de seus objetivos, como dizem as palavras do hino nacional Americano “The land of the free and the home of the brave” (a terra do livres e a casa dos corajosos).  Mas eu acredito que mesmo nos países que não promovem este tipo de oportunidades também existe a possibilidade das pessoas alcançarem o seu próprio America Dream pois, o real fundamento não depende somente do ambiente mas sim da atitude de cada um.

Enfrentar nós mesmos não é tarefa fácil mas investindo no que somos capazes, responder perguntas fundamentais do seu passado, presente e visão do futuro que são passos que estão totalmente ao nosso controle. 

Convido a todos a começar a sua transformação pessoal e garanto, você irá se surpreender o quanto que você é capaz. Qual é o seu “Sonho Americano”?

#MyAmericanDream

Gustavo Netto

Em 2019, recebi um premio do departamento Atlético por contribuições a Universidade e comunidade dentro e fora do campo